segunda-feira, 16 de junho de 2008

BOCAPIU MÁGICO - a expressão criativa


A utilização de fantoches como recurso didático é de uma riqueza de conteúdos inimaginável, considerando que o texto vai surgindo à medida em que são resgatados valores e princípios éticos, histórias e vivências. Muito antigo, o Teatro de Fantoches permite que temas sejam explorados com uma sutileza prazerosa, como: racismo, morte, injustiça social, separação, dentre outros. A proposta é que ele se torne um instrumento pedagógico para, exatamente, transmitir mensagens e ensinamentos através da arte. A minha experiência como coordenadora pedagógica, favorece-me, no sentido de atestar que a utilização deste recurso não tem um público alvo definido, podendo ser explorado em situações das mais inusitadas, com resultados positivos, tanto para crianças como para treinamento de servidores burocráticos, professores, etc. (com textos engraçados, animados, musicados e cuja essência esteja direcionada para o objetivo proposto).
Por tudo isso, criei um grupo de fantoches - o BOCAPIU MÁGICO, para o qual escrevo peças, que tratam de assuntos como a diversidade cultural e as riquezas da cultura popular, da polêmica questão do uso da gíria, apropriadas para crianças e adolescentes do Ensino Fundamental, na tentativa de arraigar, cada vez mais, o valor pela nossa história, pela nossa língua, pelas nossas raízes. As peças são construídas conforme surge a necessidade, para um universo próprio como público-alvo, aspecto importante para o sucesso a que a mesma se propõe. Como exemplo, cito : "ATROPELANDO A GRAMÁTICA E O CORAÇÃO" , "VAMOS FAZER UMA CHINFRA COM O LERO DA MUVUCA", e outras.
Para que possam conhecer o meu trabalho disponibilizo abaixo, uma destas peças.
“ATROPELANDO A GRAMÁTICA E O CORAÇÃO” (Outubro de 2006)
Autora: Lygia Prudente Maynard Vieira

Conteúdo: Fraseologia popular e a aplicação correta da norma culta
Um dos personagens desta peça fará a apresentação do grupo e do conteúdo que será explorado na sua execução:
Boa tarde! Vamos mostrar alguns exemplos do emprego da norma culta na gramática portuguesa. Atenção! Com vocês...... o Grupo Bocapiu Mágico apresenta

“ATROPELANDO A GRAMÁTICA E O CORAÇÃO

Entra LOLITA, olhando devagar de um lado para o outro e, pergunta à platéia :
LOLITA - Olá! Estão todos aí? Hum...Fico sempre na dúvida se devo começar a falar.
E, falando alto, diz:
LOLITA - BOA TARDE!!! Ué... estão com fome é? BOA TARDEEEEEEEEE.... Eu sou a Lolita e... aí meu Deus! Já estou começando a ficar nervosa. Por que será ? JÁ SEI! Cadê aquele gato do Zezito? Não chegou? OH céus! Agora é que perco a cabeça... E... gritando...
LOLITA - Natasha.... CADÊ VOCÊ NATASHA ????????? E cochicha para a platéia: Essa tal de Natasha anda arrastando uma asa... NÃO! As duas asas pro lado daquele BUMBUM, quero dizer... BOMBOM. Preciso vigiar!
Entra Natasha, correndo e diz:
NATASHA - Você me chamou, Lolita? Antes que você me responda, devo lhe perguntar o que você precisa vigiar? Sim, porque quem vigia, vigia alguma coisa, não é mesmo turma?
LOLITA - Vigiar? Ah! Sim, eu estava falando que você anda muito saliente para o lado do Zezito e que eu preciso ficar de antena ligada. Entendeu?
NATASHA - Nã nã nã nã nã não!!!! Santo Deus, Lolita. Procure falar um linguajar mais decente. Antena... o que é que você quis mesmo dizer?
É a vez de entrar o Lobão.
LOBÃO - Ué Natasha, não me diga que você não conhece esse lero! Quer dizer ficar esperta como a própria antena, ligadona.
LOLITA - Ainda bem que tenho companhia. Alguém me entende.
NATASHA - Mas então, voltemos ao que conversávamos : Vigiar o que ou a quem?
LOBÃO - É claro que a Lolita disse isso porque tem ciúmes de você com o Zezito, logo a vigiada é você.
LOLITA - Chiuuuuuu! Fica calado! Ai meu Deus!
NATASHA - Antes de mais nada, se a vigiada sou eu, você deveria ter dito: PRECISO VIGIÁ-LA. E depois, trate de vigiar-me mesmo, porque eu também estou paquerando o Zezito.
LOBÃO - Sujou! Agora a coisa fede!
Entra Zezito e grita:
ZEZITO - Quem me chamou? Ouvi ou não ouvi o meu nome ser pronunciado pelas beldades?
LOBÃO - Fedeu mesmo. Quero ver só no que vai dar tudo isso!
LOLITA - Foi bom ver você porque precisamos chegar!
NATASHA - Lá vai começar tudo de novo! Chegar aonde? A minha falsa amiga deve ter faltado à aula no dia em que a professora explicou que o verbo chegar exige a preposição A, então PRECISAMOS CHEGAR A que?
ZEZITO - Com certeza a alguma decisão. E eu estou com o ego amaciado só de pensar que vocês gatas estão discutindo por mim.
LOBÃO - Misericórdia.... ainda tenho que agüentar esta sessão de GABOLICE!
LOLITA - Parem com tanto blá blá blá. Vamos logo aos finalmente!
LOBÃO - Concordo plenamente, cara colega. E veja se você abre os olhos. Olhe ao seu redor porque não existe só o Zezito e... beleza não põe mesa.
NATASHA - Então deixemos um pouco a norma culta de lado e tratemos de esclarecer alguns pontos. Eu não sou santa e não vou abrir mão de Zezito para beneficiar Lolita. Não mesmo!
LOBÃO - Só um pequeno detalhe: Zezito, o DOM JUAN sabe do interesse das duas e qual desses interesses parte realmente de um sentimento ou trata-se simplesmente de uma disputa?
ZEZITO - Muito bem colocado, Lobão. Você agora deu uma dentro!
NATASHA - Ai minha santa virgem da Querupita! Protegei-me do lero falado por essa muvuca! Uai! Já estou falando do mesmo jeito, imagina como é contagiosa essa história!
LOLITA - Eu acho é pouco: tão posuda e é igualzinha a todos os mortais.
ZEZITO - Precisamos voltar ao que fora colocado pelo Lobão quando ressaltou que o importante é sabermos qual dos sentimentos é o mais puro e o mais verdadeiro! Afinal estou sendo o pivô do desentendimento.
LOLITA - É lógico que a minha paquera é a mais verdadeira!
ZEZITO - Lembra da época que você andava se engraçando para o lado do Lobão?
LOBÃO - Meu lado? E como não me lembro?
LOLITA - Ah! Ele nem olhava para mim. Eu não gosto de ficar esperando muito tempo.
NATASHA - Então é verdade? Quem diria?
LOLITA - Não se meta! Fique na sua!
ZEZITO - Lobão você é mesmo aéreo. Como não percebeu que a Lolita estava a fim de você?
LOBÃO - È verdade Lolita? E por que desistiu?
NATASHA - Sim, sim, por que? Diga logo Lolita.
ZEZITO - Estou achando que ela ainda nutre um sentimento de afeto por você, Lobão.
LOLITA - Olhem vocês! Não faz a minha praia eu ficar atrás de alguém que nem me olha. Eu quero logo partir para outra paquera.
Lobão corre e abraça Lolita .
LOBÃO - Não diga mais nada minha Ivete Sangalo. O meu coração lhe pertence. Vamos encerrar o assunto. Dê para mim um beijo, vamos.
NATASHA - Não é dê para mim, meu Deus. É DÊ-ME UM BEIJO!
ZEZITO - Aproveitando a deixa e esclarecidos os fatos, deixe que em você eu dou. Um só não, vários.
ABRAÇAM-SE TODOS E VIRANDO-SE PARA A PLATÉIA CURVAM-SE AGRADECENDO OS APLAUSOS.
- FIM -
Lygia Prudente

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