sábado, 12 de julho de 2008

A Feirinha de Natal

Fotos: de Armando Maynard

No inicio do mês de dezembro começavam os preparativos para a Feirinha de Natal, festa tradicional do Aracajuano, que se instalava no Parque Teófilo Dantas, no centro de Aracaju-Se. Tinha sua culminância na noite de 24 de dezembro, véspera de Natal, e ia até o dia 6 de janeiro, festa de Reis. Eram atrativos na festa diversos brinquedos como A Onda, Os Barquinhos, A Roda Gigante, e o famoso Carrossel do Tobias, um dos brinquedos mais tradicionais da época, e um patrimônio dos sergipanos que se perdeu – mais um. Quando o carrossel ia começar a rodar, avisava com um possante apito, que era ouvido em várias partes da cidade. Havia atrações por todo o parque, como as casinhas de teatro, com apresentações como A Bela e a Fera. Uma delas, atraía grande público, pois na sua fachada, acima da porta de entrada, tinha uma boneca vestida de baiana, rebolando ao som de uma frenética música. Por toda a praça ficavam espalhadas várias barracas e cercados, como a do tiro ao alvo com espingarda de ar comprimido, cuja munição eram setinhas, como a da pescaria na areia, em cujo peixe, de metal, estava escrito o nome do brinde e o jogo de argolas para laçar o prêmio. Um dos brindes mais desejados dos jovens eram as carteiras de cigarro, principalmente a minister. Do outro lado da Catedral ficavam as grandes e vistosas bancas de roletas, que depois foram proibidas. Ao fundo, os bares, onde a boemia se esbaldava até altas horas da noite, ouvindo músicas do cancioneiro popular, como Nelson Gonçalves, Orlando Silva e Cauby Peixoto. À frente da igreja eram enfileirados os bancos das tradicionais famílias, constando nos seus encostos os nomes dos proprietários, que, à noite os ocupavam e, sentados, assistiam à movimentação dos transeuntes e o passeio dos jovens na grande passarela que se formava, cujo percurso ia da frente da Catedral, passando pela Sorveteria Iara, Pça. Fausto Cardoso até a Ponte do Imperador, num vai-e-vem interminável. Aos domingos, a mesma avançava pela Rua João Pessoa, quando as lojas abriam para expor suas reluzentes vitrines até as 22 horas. Era o footing, ou mais popularmente conhecido naquela época como “O Quem me Quer”. A vitrine da P. Franco chamava atenção pelo lançamento de modernos eletrodomésticos. Outras lojas também destacavam-se como a Dernier Cry, A Moda, Magazin dos Móveis. A Lar Belo, especializada em móveis e decorações, era a mais movimentada nas noites de domingo. Uma grande rampa que levava à parte superior da loja possibilitava um sobe e desce da turma da paquera. O passeio pela João Pessoa terminava na esquina da Rua São Cristóvão, na loja de sapatos Esquina da Economia, que no seu interior era cheia de espelhos - o deleite das garotas que ficavam a se olhar e arrumar as roupas e cabelos. Tempo do perfume Lancaster, do gumex, pente de metal, da camisa volta ao mundo e do cigarro continental (por ser o mais barato), do cuba libre na Iara, da cerveja geladíssima no Cacique Chá e da sopa mão de vaca na Cascatinha. Não esquecendo do sorvete da Cinelândia e do Cachorro Quente de seu João. De volta ao parque... à meia noite havia a Missa do Galo. Nesta hora todos os brinquedos paravam, o Carrossel com seu apito silenciava e o serviço de alto-falantes passava a transmitir a santa missa. A feirinha de Natal era especial para a criançada, que nas tardes de dezembro, já de férias da escola, divertia-se bastante, pois além de várias atrações com a série de brinquedos ali existente, havia uma grande quantidade de guloseimas, como a maçã coberta com melado de açúcar, pirulito enrolado num papel e enfiado no palito, algodão doce nas cores branco e rosa, rolete de cana caiana, pipoca de milho doce e salgado, amendoim torrado e castanha de caju, bala de café, mariola e fubá, chiclete de bola, picolé de mangaba, balões de gás - sucesso na época que apareceu por aqui - bolas de soprar de todas as formas e tamanhos, brinquedos artesanais feitos de madeira como o mané gostoso. Bons tempos que não voltam mais, tendo ficado registrado na lembrança e na saudade dos que viveram o Aracaju antigo. Muitos anos depois quiseram reviver esta mesma Feirinha no Parque da Sementeira, mas não vingou. Os tempos são outros, as crianças hoje querem é videogame e com certeza diriam que o Carrossel do Tobias era devagar demais.
Armando Maynard

2 comentários:

Kate disse...

A pipoca doce a gente acha em qualquer lugar, mas a Salgado NUNCA mais eu vi... E quanto ao cachorro quente de Seu João ( o que dava tifo) era o mais gostoso que conheci. Até hoje tento fazer igual em casa e conto pros meus filhos como era no meu tempo.

CRIANDO MEU RITMO disse...

Lygia querida...parabéns por ter descrito maravilhosamente e de maneira singular, um tempo onde, os que tiveram a oportunidade de feito parte, podem matar a saudade. Exatamente assim, não deixou passar nada. Muito obrigada.