quinta-feira, 22 de maio de 2008

A ATUAL FACE DE EVA

Mulher... mulher!
A teimosia, ousadia e coragem de algumas – poucas – verdadeiras e transparentes mulheres, permitem-me – sem feminismo improcedente - registrar o que penso sobre a educação e o papel feminino na família até então, homenageando esta que foi e, acredito, continuará sendo o alicerce da imponência de fortalezas masculinas.
A história mostra que na estrutura familiar, a educação e orientação dada àquela criatura, considerada delicada e frágil, sempre foi a de subserviência, obediência e renúncia, treinada todo o sempre para a profissão que lhe coube: o casamento. E assim o homem, forte, viril e poderoso, poderia reinar sem contradições, sem interferências, com a mulher a lhe servir, numa relação embasada quase sempre pela imposição do pai que achou ser aquele o caminho mais certo, o caminho da felicidade. A conformação e a falta de opção, muitas vezes, levava essa relação a um desfecho menos doloroso, considerando que o coração puro, virgem, sensibilizava-se pela aproximação grotesca e mecânica do seu senhor, entre quatro paredes, e a convivência fazia nascer um sentimento de amor, de adoração, que não podia sequer ser manifestado. Séculos e séculos testemunharam essa intimidade e o ranço que tudo isso deixou ainda fere rosados corações, nos dias de hoje.
A educação feminina estava estreitamente relacionada com as atividades desenvolvidas pelo “belo sexo”. A sua formação tinha somente o casamento como meta. O cuidado com a casa e com os filhos era a sua aspiração máxima. A mulher da classe social mais alta deveria aprender apenas a tocar piano, falar francês, bordar, costurar. A agulha se sobrepunha à caneta, e o escrever, para a mulher, requeria muita força de vontade e a própria transcendência do seu sexo, pois se afastavam de sua atividade primordial de esposa e de mãe, deixando de lado quem ela devia servir e cuidar. Esta imposição foi conseguindo ser burlada e chegamos ao ápice de termos um legado inestimável de obras escritas por mãos femininas que sem dúvida alguma precisam ser conhecidas e propaladas. Vale a pena salientar o sentido de inspiração e de consciência de sentimentos que, as entrelinhas deste poema de Pérpetua Vale, escrito por volta de 1939, faz transbordar as inquietações de uma luta pelas suas próprias vontades:

“Por isso dentro em minha alma
Dá-se um conflito travado
Entre o desejo infinito
E o pensamento acanhado!”

A falta de instrução contribuiu para que a mulher assumisse atitudes de incapacidade e de medo. Não era estimulada a desenvolver sua capacidade intelectiva e a leitura feminina devia restringir-se ao livro religioso.
Durante muitos séculos a mulher viveu submissa unicamente para servir ao homem seu senhor, e criada desde o berço para reprimir seus desejos e para ser escrava e companheira do homem dando-lhe sexo e alimentação.
Não se esqueçam que a mulher foi feita a partir de um fragmento da costela de Adão. E Adão levou a sério o seu poder. Assim sendo, esse poder tornou-se a primeira representação da idéia de conflito na história humana. A Eva, arraigada em cada uma de nós e moldada todo sempre para atender as exigências da sociedade patriarcal, começou, aos poucos, a se desvencilhar do Adão, libertando-se do jugo masculino e com competência, tem provado o seu valor no espaço da sociedade que só o masculino valorizava – o mercado de trabalho – mostrando que o sexo frágil nunca foi tão frágil assim e fazendo surgir um novo conceito de mulher batalhadora, teimosa, charmosa, eficiente, competitiva, forte e sedutora. A dita "Amélia" está desaparecendo. A realização profissional está vindo em primeiro plano.
É importante lembrar que as mulheres não garantiram apenas o sucesso profissional pois, assim como os homens, algumas irão conseguir e outras irão fracassar e frustrar-se profissionalmente, mas, talvez, tenham conquistado o direito de fracassar por conta própria ou a satisfação de ter sucesso pelos próprios méritos.
A mulher hoje, na sua fortaleza disfarçada, representa o suporte tão necessário ao homem nos momentos de dificuldade, de dor, de carência. Será que é tão difícil compreender e enxergar isso sem que seja preciso nenhuma manifestação de feminismo contundente, nem discussões acirradas, infrutíferas e mascaradas? A tolerância e a sensibilidade que caracterizam o comportamento feminino permitem ao homem a suprema condição de chefe da família, de cabeça do casal, de respeitado pai, de adorado amante.
Subserviência, jamais! Amor, paixão, cumplicidade e companheirismo, sempre!
Lygia

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