sábado, 10 de janeiro de 2009

Choro e Chorões


O MURAL de hoje dediquei à difusão da nossa cultura musical, dando a minha parcela de contribuição para que o CHORINHO seja conhecido e notabilizado também dentre os jovens, aguçando o gosto pela música de qualidade. E nada mais justo que avocar um artigo do professor Ludwig Oliveira, um dedicado estudioso da música através dos tempos.


O chorinho no Brasil
Ludwig Oliveira (*)

Choro – Devo antes de dissecar, dizer que o Choro não é exatamente um gênero musical, como o samba, o baião, a valsa, etc. É uma maneira de tocar, uma linguagem criada pelo músico carioca. O Choro quase sempre é sentimental, mas também pode ser alegre e saltitante. Suas origens são desconhecidas, mas existem algumas hipóteses que o fazem provir da África: os negros cafres costumavam executar uma espécie de concerto vocal, ao qual chamavam xôlo, que foi trazido para o Brasil, confundindo-se essa palavra africana com a portuguesa “choro”. Diversos historiadores de nossa música popular estabeleceram que o Choro nasceu nos anos 70 do século passado, no Rio de Janeiro, o mesmo período, aliás, em que foi criado o maxixe, outro gênero musical carioca. A polca “Flor Amorosa” do flautista Joaquim Silva Callado Júnior. Quando o violoncelista Casemiro de Souza Pitanga tirava incríveis vibratos de seu instrumento, numa apresentação no Salão do Congresso Fluminense em novembro de 1857, um determinado espectador gritou: - chora Pitanga! Esse grito, que resultou em 1868 na polca “Chora Pitanga”, de Manoel Joaquim Maria, identificava também um modo de tocar das músicas da época. A grande emulação desses encontros era a apresentação de novas músicas que pretendiam “derrubar” os acompanhadores, com as suas modulações inesperadas, além das improvisações dos solistas. Um dos músicos surgidos naquela comunidade de chorões chamava-se Albertino Ignácio Pimentel – o Carramona (1871-1929) – deixando uma obra das mais expressivas e uma lembrança muito forte entre os músicos. Lamentável que não houvesse ninguém naquela época interessado em registrar num livro aquele momento da música popular brasileira. Só muito mais tarde, em 1936, Alexandre Gonçalves Pinto, um antigo tocador de violão e cavaquinho e humilde funcionário dos Correios, sem qualquer vocação para escritor, escreveu por conta própria um livro chamado “O Choro” (atualmente uma raridade biográfica), com reminiscências de cerca de 300 figuras do Choro carioca. Através desse livro foi possível saber, por exemplo, que Carramona aprendeu a tocar piston ainda criança, quando era interno da Casa dos Meninos Desvalidos, em Vila Isabel. E também que a Princesa Isabel gostou tanto das suas interpretações que, como prêmio, pediu a um médico que colocasse – por conta da família imperial – um “olho de vidro” no lugar do seu olho vazado. Outro Chorão da mesma época é Pedro Manoel Galdino, autor de Choro “Flausina” uma das primeiras gravações de Pixinguinha (1912), Pedro Galdino – segundo depoimento de Pixinga ao crítico Tinhorão – “era um crioulinho que trabalhava na fábrica de tecidos da Vila Isabel. Como músico era fraco, mas compunha umas coisas bonitinhas.” Outro grande: Luiz Americano (1900 – 1960), saxofonista e clarinetista, filho de Itabaiana-SE, deu também grande parcela ao Choro através de composições bastantes destacadas – É do que há, Intriga no Boteco do Padilha, Numa Seresta, Luiz Americano no Lido, Assim Mesmo, Minha Lágrima e Sorriso de Cristal. Diversos outros também se destacaram, Avena de Castro, Aristides Borges, Luiz Otaviano Braga, Patápio Silva, etc. Enfim, o Choro gerado sob o impulso criador e improvisatório dos chorões logo perdeu as características dos países de origem, adquirindo feição e caráter perfeitamente brasileiros, a ponto de se tornar impossível confundir uma Polka da Boêmia, um Schottiche teuto-escocês ou uma Valsa alemã ou francesa, com o respectivo similar brasileiro, saído da inventiva desses Chorões que se chamaram Calado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Irineu Batina, Pixinguinha, Mário Cavaquinho, Sátiro Bilhar, Candinho Trombone, Jacob e Waldir.
O Choro nasceu da necessidade inconsciente que esses músicos sentiram de nacionalizar a música estrangeira importada.
Agora, vou ouvir um Chorinho de autoria de meu pai...!


(*) Radialista e Professor

(artigo publicado originalmente no JORNAL DA CIDADE , Aracau/SE, em 10 de maio de 2000)

ASSISTA ao vídeo : "Alma Carioca: um CHORO de Menino",

uma deliciosa animação que mostra como o choro passou de gerações a gerações, mantendo viva a verdadeira cultura carioca.



Lygia Prudente

6 comentários:

Daniel Savio disse...

Parabéns pela escolha da matéria, pois sinceramente com os fruto atuais da música brasileira, parece que árvore da nossa cultura morreu, mas as raizes dela são forte e de lá ainda há de sair algo de bom...

Fiquem com Deus, Lygia e Armando.
Um abraço.

tesco disse...

Preciosa pesquisa do Ludwig, é importante a divulgação de nossas raízes culturais. Porém, essa transformação de valores ancestrais, esse abrasileramento, não se deu da noite pro dia. E a aceitação do reultado essa transformação pela sociedade foi gradual. O mesmo se dá hoje, quando valores estrangeiros são, pouco a pouco, conformados ao gosto e aos moldes nacionais. Nós não percebemos isto porque também fazemos parte do processo. A transformação é contínua. _Beijos do tesco.

silvioafonso disse...

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Eu não tenho pressa, mas tempo não tenho agora. Estou pasmo, sem voz, não ouço nada além do som, surdo, destas imagens que teimam, com o seu nome no rodapé, brincar de cabra-cega e pique esconde na retina úmida dos meus olhos. Eu quero voltar, preciso me sentar, respirar e me deixar perder nas espirais desta beleza. Quero e preciso olhar, ouvir e falar do seu trabalho, como um crítico de arte embriagado na beleza dos seus atos.

silvioafonso.




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silvioafonso disse...

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AMOR DE DOER...

Por Deus, não se faça imune, mas não procure pelo amor ou você colocará com suas próprias mãos no seu pescoço a coleira que a estrangulará, mas deixará nos seus lábios o sorriso do orgasmo que não cessará e feliz, ainda, partirá num lindo funeral.

silvioafonso, mais palhaço que poeta.





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Vivian disse...

...maravilha de post!

adoro chorinhos,
e portanto, hj ganhei o dia..

muahhhh, linda!

Anônimo disse...

Realmente um ótima matéria! Onde se tem toda uma origem do assunto, que é o Chorinho. Parabéns por esta pesquisa MUITO bem escrita e certamente detalhada!

Beeeijão de todos aqui em casa!

Thamyres.