LUDWIG OLIVEIRA
Radialista e Professor
(artigo publicado originalmente no JORNAL DA CIDADE , Aracau/SE, em março de 2008)
Assista ao vídeo "Amor tem que ser Amor", com a participação do cantor Paulo Sérgio no Programa "Globo de Ouro", em 1976.
(artigo publicado originalmente no JORNAL DA CIDADE , Aracau/SE, em março de 2008)
Assista ao vídeo "Amor tem que ser Amor", com a participação do cantor Paulo Sérgio no Programa "Globo de Ouro", em 1976.
Choro – Devo antes de dissecar, dizer que o Choro não é exatamente um gênero musical, como o samba, o baião, a valsa, etc. É uma maneira de tocar, uma linguagem criada pelo músico carioca. O Choro quase sempre é sentimental, mas também pode ser alegre e saltitante. Suas origens são desconhecidas, mas existem algumas hipóteses que o fazem provir da África: os negros cafres costumavam executar uma espécie de concerto vocal, ao qual chamavam xôlo, que foi trazido para o Brasil, confundindo-se essa palavra africana com a portuguesa “choro”. Diversos historiadores de nossa música popular estabeleceram que o Choro nasceu nos anos 70 do século passado, no Rio de Janeiro, o mesmo período, aliás, em que foi criado o maxixe, outro gênero musical carioca. A polca “Flor Amorosa” do flautista Joaquim Silva Callado Júnior. Quando o violoncelista Casemiro de Souza Pitanga tirava incríveis vibratos de seu instrumento, numa apresentação no Salão do Congresso Fluminense em novembro de 1857, um determinado espectador gritou: - chora Pitanga! Esse grito, que resultou em 1868 na polca “Chora Pitanga”, de Manoel Joaquim Maria, identificava também um modo de tocar das músicas da época. A grande emulação desses encontros era a apresentação de novas músicas que pretendiam “derrubar” os acompanhadores, com as suas modulações inesperadas, além das improvisações dos solistas. Um dos músicos surgidos naquela comunidade de chorões chamava-se Albertino Ignácio Pimentel – o Carramona (1871-1929) – deixando uma obra das mais expressivas e uma lembrança muito forte entre os músicos. Lamentável que não houvesse ninguém naquela época interessado em registrar num livro aquele momento da música popular brasileira. Só muito mais tarde, em 1936, Alexandre Gonçalves Pinto, um antigo tocador de violão e cavaquinho e humilde funcionário dos Correios, sem qualquer vocação para escritor, escreveu por conta própria um livro chamado “O Choro” (atualmente uma raridade biográfica), com reminiscências de cerca de 300 figuras do Choro carioca. Através desse livro foi possível saber, por exemplo, que Carramona aprendeu a tocar piston ainda criança, quando era interno da Casa dos Meninos Desvalidos, em Vila Isabel. E também que a Princesa Isabel gostou tanto das suas interpretações que, como prêmio, pediu a um médico que colocasse – por conta da família imperial – um “olho de vidro” no lugar do seu olho vazado. Outro Chorão da mesma época é Pedro Manoel Galdino, autor de Choro “Flausina” uma das primeiras gravações de Pixinguinha (1912), Pedro Galdino – segundo depoimento de Pixinga ao crítico Tinhorão – “era um crioulinho que trabalhava na fábrica de tecidos da Vila Isabel. Como músico era fraco, mas compunha umas coisas bonitinhas.” Outro grande: Luiz Americano (1900 – 1960), saxofonista e clarinetista, filho de Itabaiana-SE, deu também grande parcela ao Choro através de composições bastantes destacadas – É do que há, Intriga no Boteco do Padilha, Numa Seresta, Luiz Americano no Lido, Assim Mesmo, Minha Lágrima e Sorriso de Cristal. Diversos outros também se destacaram, Avena de Castro, Aristides Borges, Luiz Otaviano Braga, Patápio Silva, etc. Enfim, o Choro gerado sob o impulso criador e improvisatório dos chorões logo perdeu as características dos países de origem, adquirindo feição e caráter perfeitamente brasileiros, a ponto de se tornar impossível confundir uma Polka da Boêmia, um Schottiche teuto-escocês ou uma Valsa alemã ou francesa, com o respectivo similar brasileiro, saído da inventiva desses Chorões que se chamaram Calado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Irineu Batina, Pixinguinha, Mário Cavaquinho, Sátiro Bilhar, Candinho Trombone, Jacob e Waldir.
O Choro nasceu da necessidade inconsciente que esses músicos sentiram de nacionalizar a música estrangeira importada.
Agora, vou ouvir um Chorinho de autoria de meu pai...!
(*) Radialista e Professor
ASSISTA ao vídeo : "Alma Carioca: um CHORO de Menino",
uma deliciosa animação que mostra como o choro passou de gerações a gerações, mantendo viva a verdadeira cultura carioca.