Nada mais gostoso do que lembranças, evidentemente, boas lembranças. E elas, geralmente, estão no convívio da família. É tão rica a vivência que trazemos no nosso amadurecimento, recheada de fatos e acontecimentos que nos remetem ao passado com a sensação de paz, de deleite, de colo de mãe. Já tivemos oportunidade de falar do Natal em família, do carnaval também. Agora, os feriados da Semana Santa nos remetem, novamente, a esse convívio alegre, quando partilhávamos, ainda, da presença de filhos, irmãos, hoje distantes geograficamente, rasgando o nosso coração de saudade, consolados pela certeza da felicidade que, assim mesmo, permeia as suas vidas. Afinal, filhos são criados para o mundo. Pois é. Mas, em anos atrás, tal qual no carnaval, aproveitávamos os feriados da Páscoa para passarmos, todos juntos, em Pirambu ( uma praia no litoral norte do Estado de Sergipe), na casa de Luiza e Edson, mais uma vez citados como anfitriões. Eu e Armando, os filhos Guilherme e Simone, sobrinhos, naturalmente, Luiza e Edson, mães de Luiza e Armando e de Edson, filhos, genros e noras e amigos dos jovens que, pela ligação afetiva, eram considerados sobrinhos também. Hoje, já pais e mães, ainda me chamam de “tia” Lygia. E em um destes feriados da Páscoa, resolvemos queimar um “Judas”, conforme manda a tradição do Sábado de Aleluia, ainda fortemente respeitada no nosso Nordeste. Abrindo um parêntese: dentre os antigos ritos pagãos, a QUEIMA DO JUDAS é o mais popularmente conhecido. Acontece no sábado anterior ao domingo de páscoa, parecendo evocar a traição de Judas Escariote a Jesus Cristo, como a Bíblia nos fala. A celebração segue o rumo que vai da leitura de um “testamento” à encenação de uma condenação, cuja forma de execução, apesar do seu aspecto lúdico não exige o rigor da autenticidade, uma vez que o boneco é amarrado e queimado com fogo pirotécnico e, na narração bíblica descreve um enforcamento. O boneco a ser executado representa, sempre, alguém a quem se procura visar com a crítica social, não passando de uma mera brincadeira inofensiva. Fecha o parêntese. A movimentação que essa decisão em grupo causava, deixava no ar uma excitação geral, nos preparativos: procuravam roupas velhas, em desuso; o capim ou jornal para o enchimento; encarregavam-se de batizar o “Judas”, e finalmente, preparavam-se para escrever o testamento – a parte mais engraçada e esperada da festança. Como a família era grande, porque, além dos que estavam na casa de Luiza e Edson, outros estavam também em Pirambu, na casa de Selminha, prima de Armando e Luiza. Cerca de quarenta pessoas. Eu, particularmente, adorava toda essa movimentação. Era do meu temperamento e também, sempre me dei bem com jovens, afinal, sou professora e essa profissão não concede o luxo de trabalhar acomodada. E olhe que, tive oportunidade de lidar com jovens em momentos conturbados, difíceis, quando da minha gestão na direção de escolas, mas, sempre nos demos bem, contornando as divergências de opiniões, evidentemente construtivas, com esclarecimentos colocados de forma bastante transparente, o que me possibilitava ganhos, pela confiabilidade que isso trazia. Mas, enfim, como eu sempre gostei de escrever, o testamento do"Judas" sempre parava nas minhas mãos e com isso, a responsabilidade de ser engraçada e dizer as coisas certas para as pessoas certas. Que legal! Logicamente, eu precisava contar com a ajuda da meninada, porque detalhes de cada um eram importantes para a coerência das mensagens. E começava sempre assim: “para fulano, que não tenho o que deixar, deixo isso e aquilo para ele se arrumar....” . E a festança adentrava pela madrugada, onde se bebia para comemorar e comia também. Saudades! Só mesmo em Casa de “Vó”.
Abaixo, um vídeo que mostra a queima de um "judas" qualquer, para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de vivenciar esta tradição.
Lygia Prudente
Um comentário:
Hum, pelo jeito o feriado foi bem empolgante...
Mas feliz páscoa menina Lygia.
Fique com Deus, menina.
Um abraço
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