sábado, 13 de setembro de 2008

Saudades do Cine Palace (10)


Leia o texto ouvindo a trilha sonora de "Os 10 Mandamentos"

A cabine de projeção do Cine Palace era bem espaçosa e aclimatada e, na porta, o tradicional aviso “Proibida a Entrada”. Tinha uma escadinha e logo se via os dois projetores RCA-100, atrás dos quais havia a enroladeira, onde o operador rebobinava o carretel da parte que acabara de ser projetada. Ali mesmo, também, era feita a revisão dos filmes quando estes chegavam da transportadora, vindo de outro estado em sacos de pano, que traziam as latas de filmes, cartazes, fotos, certificado de censura e orientação para o projecionista. Em Aracaju, os filmes eram exibidos com algum atraso, muito arranhados, às vezes, cortados, com as perfurações estragadas, o que gerava muitas emendas, que se não fossem bem feitas, poderiam partir-se ou enganchar durante a projeção, ocasionando até a queima do filme. Quando isso acontecia, via-se na tela o fotograma se queimando. Nesta época as lâmpadas eram de carvão. Duas varetas opostas, que funcionavam como pólos positivo e negativo, iam se queimando à medida que as duas pontas se juntavam. Quando as mesmas se afastavam, a luminosidade enfraquecia e o filme que estava sendo projetado escurecia na tela, causando grande protesto da platéia, que batia palmas e assobiava. Outra reclamação mais comum era quando a fita tinha uma emenda mal sincronizada nas perfurações e o quadro saía do lugar, subindo e cobrindo a legenda. No Palace, antes de ser feita uma adaptação na janela de projeção, uma mesma lente servia para o formato de tela standard (pequena e quadrada) e a cinemascope (retangular, tomando toda a tela), dando um efeito bastante interessante de abertura de formato de tela, quando da passagem do cine jornal para o filme principal em cinemascope. No chão, próximo de cada um dos projetores, ficavam as latas de filmes com os rolos, ordenadas em partes, distribuídas em certa quantidade para cada projetor. Os filmes, normalmente, vinham com seis a oito rolos (partes). Outros, como Os Dez Mandamentos (1956), com Charlton Heston e Yul Brynner, com duração de três horas e quarenta e dois minutos, chegavam a ter mais de treze latas de filme (partes). Quando estava para acabar um dos rolos, o outro já era colocado e começava o trabalho de sincronização. Duas marcas no fotograma do filme, aqueles círculos nos cantos da tela espaçados por trinta segundos, eram a deixa para os operadores saberem a hora de acionar o pedal, que no caso dos projetores do Palace, ficavam na sua base, que fechava o foco do que estava encerrando a parte e abria o que iria iniciar-se, fazendo com que a sincronização fosse perfeita, não se notando a mudança de parte. Uma vez, aconteceu de um projetor quebrar e demorou a ser consertado, mesmo assim o cinema não interrompeu as sessões, só que ficava parando o filme toda vez que o rolo acabava, para mudar a parte em um só projetor. A pensar que hoje nos cinemarks da vida, além de ser um só projetor, não se usa mais carretéis, e sim grandes pratos onde se coloca todo o filme, funcionando automaticamente, só precisando do projecionista para colocá-lo, isto por enquanto, porque quando a projeção for digital e depois via satélite, aí nem projecionista terá. Cada vez mais o cinema perde a magia e o romantismo de uma época que não volta mais, deixando os cinéfilos sem seus fetiches, www.fetichedecinefilo.blogspot.com .

Armando Maynard

7 comentários:

Murillo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Murillo disse...

Cinema sempre vai ser fascinante, foi no passado e com certeza é hoje. Mesmo com toda tecnologia que é usado hoje, sair de casa de casa para assistir a um filme é muito bom, eu sempre fico nervoso, ansioso a cada cena de suspense do filme. No último longa da trilogia o Senhor dos Aneis eu estava com Taquicardia e não conseguia me controlar de tanta ansiedade. Assistir a um filme no cinema é sempre emocionante, foi e é.

Jonga Olivieri disse...

A emoção do cinema ainda existe, claro. A tela grande, a sala escura, o som.
Mas os velhos cinemas de rua eram muito mais romãnticos do que o que vemos hoje, nos "cinemarks da vida", como você bem definiu.
Ficamos cercados de pipocas e toques de celular, conduzidos por pessoas que vão ao Shopping e estendem o programa para um cinema.
Juro que preferia os velhos poeiras e suas cadeira de pau do que estes cinemas todo iguais que existem por aí. Argh!

Yvonne disse...

Querido, vim aqui agradecer sua visita. Gostei do seu blog e voltarei mais vezes. Sucesso para vocês dois.
Beijocas

Jornalista Grace Melo disse...

Talves por ser da geração Stalone, Swarzenegger, Van Dame, não tenho tanto fascinio assim pelo cinema. Quando criança ia ao cine Palace com primos e primas assistir aos filmes dos trapalhões... mas gosto de tudo o que diz espeito à história cultural da nossa terra e de assistir a bons filmes, no conforto de casa.

lpzinho disse...

Muito bom o post, mto interessante de verdade!
Como já comentaram, cinema sempre vai ser o responsável por momentos de fascinação, encantamento, alegrias e emoções diversas!
Prefiro mil vezes ver um filme no cinema do que em dvd ou no pc! =)

Abraços e sucesso sempre!

lpzinho disse...

Olá Armando!
Voltei!
Primeiro para novamente lhe agradecer pelas visitas e pelo comentário precioso!
Algumas coisas à dizer à respeito: Na realidade, nunca gostei mto de ser chamado professor. Não me formei para lecionar, sou arquiteto, publicitário, radialista e já me arrisquei no teatro... Dar aula foi uma experiência inesperada e prazeirosa demais. Tenho planos de voltar em breve!
Prefiro então a palavra 'educador' ehehhe que me cai melhor, creio eu!
Concordo com as suas palavras, que por sinal eu adorei!
As escolas e o ensino em geral precisam se atualizar sem perder seu foco!
Das Kombis eu tenho tb algo à dizer: Gosto mto de todos os modelos, mas se fosse para ter uma seria daquelas primeiras. Ou as alemães quadradinhas, as Transporter dos anos 70! =)
E completando, falando em ensino, educação e juntando com seu blog e este post... conto que por alguns anos realizei na escola uma coisa chamada 'sessão pipoca' onde eu passava alguns filmes para alunos, alunas e convidados. Em sala de aula eu exibia filmes ilustrando as matérias, mas sempre com o dedo no REW/FWD e pause, comentando apenas o que era interessante ou foco!
Assim não dispersava a atenção da sala e fazia a maior parte deles correr atrás do filme por inteiro depois!

Abraços e bom final de semana!