domingo, 7 de setembro de 2008

Cine Aracaju

Arte: Lygia Prudente

“Cine Aracaju, a melhor programação da cidade”, era esse o slogan, deste que era o menor cinema do centro da cidade, situado à Rua Laranjeiras, Aracaju/Sergipe, onde hoje existe um estacionamento. Quando foi adquirido pelo empresário José Queiroz, teve modificada toda a fachada e a sala de espera, sem que fosse preciso interromper o seu funcionamento. Ao sair da sala de espera, subindo pequenos degraus havia um grande espelho, onde as garotas gostavam de ficar se arrumando. Do lado esquerdo havia uma cigarra que servia para o porteiro avisar ao projecionista a hora de iniciar a sessão. Na sala de exibição foram trocadas também as cadeiras de madeira por pequenas poltronas com estofados no assento, encosto e braços, novidade nos cinemas da cidade. Foi trocada também a tela que era de formato acadêmico (quadrada) para cinemascope (retangular). Possuía dois projetores Philips Holandês, mono, que foram adaptados, depois, para som estereofônico. Dos filmes polêmicos que foram exibidos pelo Aracaju, três se destacaram: Laranja Mecânica (1971) com Malcolm McDowell , que por ter cenas de nudez explícita, só foi liberado depois que a companhia colocou na cópia, com recursos de laboratório, bolinhas pretas cobrindo os órgãos sexuais dos protagonistas. Isto provocava risos na platéia quando da sua exibição, pois viam-se as bolinhas correndo de um lado para o outro, na frente dos atores, a fim de cobrir os órgãos sexuais dos mesmos; O Último Tango em Paris (1972) com Marlon Brando, filme que por muitos anos, ficou proibido, pela censura, de ser exibido no Brasil; Platoon (1986), ganhador de quatro Oscars, um dos relatos mais emocionantes dos horrores da Guerra do Vietnã, dirigido pelo ex-combatente Oliver Stone; outro filme que a censura teve uma recaída, por causa das cenas de violência foi Cobra (1986) com Sylvester Stallone. Os cortes foram feitos na cabine do cinema, pelo próprio projecionista, seguindo orientações vindas de Brasília, descrevendo as cenas que deveriam ser excluídas. Na Semana Santa era sempre reprisado o filme sobre a morte de Cristo, nos Cinemas Aracaju e também Rio Branco (que era arrendado à Zé Queiroz), com uma única cópia para ambos. Por isso, era necessário que os cinemas começassem as sessões em horários diferentes, dando tempo para que um funcionário da empresa ficasse transportando, a pé e por partes, as latas do filme de um cinema para o outro (na época jovens comentavam que algum dia iam fazer com que os dois cinemas parassem, segurando o funcionário no percurso entre um cinema e outro). Dos épicos, lembro-me do filme A Bíblia... no Início (1966), de John Houston, assistido com grande desconforto, pois havia um grilo dentro do cinema. Bons tempos! Hoje o desconforto é o barulho do toque do celular.

Armando Maynard

4 comentários:

Dani Pedroza disse...

Seu post me fez lembrar do cinema da minha infância. Ele era grandioso, não só pelo tamanho, mas pela beleza. Tinha afrescos nas paredes, um mezanino pomposo, uma atmosfera de teatro.

Eu, bem pequena, ia ver os filmes infantis. Chegava cedo, bem antes das luzes se apagarem. Entre doces e pipoca ficava me sentindo meio estranha, meio profana. Acho que sentia naquele lugar ares de templo. E era mesmo, não?

Costumo dizer que a vida é um "serzinho" bem irônico. Hoje, a cidade em que morei não tem mais cinema. O cinema da minha infância não existe mais. O lugar? Virou igreja evangélica. Eu, uma criança visionária... rs... Bom, cada um que adore seus próprios deuses, não é mesmo? A vida é mesmo irônica...

Obrigada pela visita. Bjin !!!

Ricardo Soares disse...

Ô SEU ARMANDO !!! TEM RECADINHO PRO SENHOR LÁ NO MEU BLOG...ABRAÇO E BOA SEMANA

Paula Dantas disse...

Oi querido!!!
Vim retribuir a visita...
Adorei seus textos, cinema é uma das minhas artes preferidas! :p

Beijão

Anônimo disse...

Olá Armando!

Trabalhei durante algum tempo em um cinema moderno multiplex (Moviecom Cinemas), e peguei gosto pela coisa.
Hoje possuo 3 projetors Bell & Howell e alguns filmes 16mm e tenho um sonho de um dia abrir uma pequena sala de cinema....como o Sr Zagati que vc conhece.
É realmente impressionante a magia e a sensação de fantasia quando colocamos um filme no projetor e as imagens vão se formando na tela.


Um Abraço!
RVB Celestino