domingo, 29 de março de 2009

Cultura Musical

CURARE, BORORÓ, ORLANDO SILVA e DA COR DO PECADO

Ouvi certa feita ainda criança, uma música por nome de “curare”, naquela ocasião meu pai tinha um refinado gosto para a música de nosso cancioneiro popular, a letra versava que uma linda mulher tinha traços de beleza jeito de índia, na boca aquele vermelho carmim, mas... foi a natureza quem quis assim. Hoje pesquiso a música não só brasileira, como também a estrangeira pelo simples fato que em minha infância, lá pelos idos das décadas de 60 e 70 em Aquidabã, meu torrão, aprendi a gostar e me interessar por músicas de qualidade melódica e poética por influência de meu pai que foi solista de violão tenor cavaquinho bandolim e clarineta, mas faço isso por puro diletantismo. Bororó (Alberto de Castro Simões da Silva), foi padrinho da carreira artística do cantor das multidões Orlando Silva, que em 1939 ficou enciumado por não ter gravado “Da cor do Pecado”, o outro clássico lançado por Sílvio Caldas. Então o compositor deu-lhe “Curare”, como compensação. Além da letra brejeira a construção harmônica da segunda parte, notadamente a parte final, uma seqüência avançada para a época, tornam esse samba atraente para intérpretes, como João Gilberto, que sempre nutriram uma grande vontade de incluí-las em seus repertórios. “Da Cor do Pecado” foi oferecida a Sílvio Caldas (caboclinho querido) como era conhecido em meio a boemia carioca, em 1939 por Bororó, que aliás, é um grande samba, o melhor do reduzido repertório do compositor, possui uma das letras mais sensuais de nossa música popular: “Este corpo moreno/ cheiroso e gostoso/ que você tem/ é um corpo delgado/ da cor do pecado/ que faz tão bem...”. Segundo o autor, “a musa desses versos chamava-se Felicidade, uma mulher de vida pregressa pouco recomendável”. “Da cor do Pecado” permanece como um clássico, tendo regravações de artistas como Elis Regina, Nara Leão, João Gilberto, Ney Matogrosso e até vejam só, Marília “Gabí” Gabriela e os instrumentistas Jacó do Bandolim e Luís Bonfá, além de orquestras estrangeiras como Caesar Geovannini e Clebanoff.. Além dos dois clássicos populares “Curare e “Da Cor do Pecado” Bororó em 1943 compôs em parceria com Evrágio Lopes o samba-choro “Que È, Que É?”. Bororó faleceu em 1986 com 88 anos. Vez por outra sempre colaborei com o JORNAL DA CIDADE de forma esporádica, pretendo dar seqüência a esse artigo, mostrando as façanhas de letristas e compositores da MPB, abordando as contendas musicais entre Noel Rosa x Wilson Batista, Marlene x Emilinha Borba, Rita Lee x Jovem Guarda, Paulinho da Viola x Benito di Paula . Quero promover um minucioso levantamento da implantação da MPB como pilar básico da cultura nativa.

Ludwig Oliveira
Radialista e Professor
Publicado no Jornal da Cidade
Mar/2008
E-mail:
lueventos3304@hotmail.com

Vídeo: João Gilberto - A Cor do Pecado, de Bororó

Lygia Prudente

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher (3)



Árvore
um poema de
Lygia Prudente M. Vieira


Mulher ,
Tu és árvore!

E no fértil solo onde fostes plantada,
germinastes faceira tal botão de rosa.
Crescestes semeada pelas intempéries,
fortalecendo teu tronco,
com a teimosia da tua vontade.

Mas, que magia é essa que te rondas,
e que te concedes tanta ousadia?
Será a sustentação das tuas raízes
ou a frondosa sombra que a tua copa irradia?

Não só!

A suavidade do agito dos teus galhos,
e a firmeza tenra que te faz convincente,
te faz única, ímpar, singular,
na labuta ferrenha de proteger tuas crias.

Árvore Mulher,
Tu és bela!

Intuitivamente... obstinada.
Vaidosamente... teimosa.
Irritantemente... persistente.
Atraentemente... sensível.
Contraditoriamente...
E, quase sempre, forte,
Acima de tudo...
Árvore!
Lygia Prudente

quarta-feira, 4 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher (2)


Nesse mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, impossível não falar de três mulheres que exerceram papel preponderante na minha vida: Lucila, Maria de Lourdes e Maria Aliva, avó, mãe e sogra, respectivamente. As três traziam no âmago características de fortaleza, sendo sempre mulheres de fibra, submetidas à duras provas, durante a vida terrena e cujos ensinamentos norteiam, ainda hoje, o caminhar dos seus privilegiados herdeiros. A minha avó Lucila, explícita na expressão da palavra, muito transparente, comunicativa, de personalidade marcante, uma líder inata, teve sob o seu comando uma família de sete filhos, seguidores dos seus ensinamentos. Exerceu seu papel de mãe e de mulher, trabalhando e assim contribuindo para a manutenção da família. Com o meu avô, foi dona de farmácia, de armazém, mostrando-se disposta a quebrar paradigmas, numa época em que a mulher estava confinada à viver em casa e para a casa, à cuidar somente da família. Maria de Lourdes – a minha mãe, herdou da minha avó essa firmeza de propósitos sem, contudo, perder a meiguice. Junto com o meu pai, trabalhou nos Correios e Telégrafos, chegando a exercer cargos de direção, com louvor, considerando o respeito com que era citada pelos colegas. Teve sob a sua tutela, quatro filhos – eu e mais três homens. Trazia consigo um problema cardíaco congênito, gravemente aflorado a partir de um fato trágico nas nossas vidas: o seu filho mais novo, aos sete meses de idade, morreu em decorrência de um incêndio, na calada da noite, no quarto onde dormia, ocasionado por um curto-circuito. Daí por diante, a alegria que a caracterizava, quer no dia-a-dia em família, quer nas reuniões comemorativas, desapareceu e assim, treze anos depois, ela nos deixou atendendo aos desígnios de Deus. Eu estava com 18 anos e, agora, única mulher da casa, procurando seguir seus exemplos, pautei a minha vida a partir de então. Casei dois anos depois do seu falecimento e encontrei na minha sogra, Maria Aliva - a terceira das mulheres em pauta, uma outra mãe. Essa era a docilidade em pessoa, e, quando necessário, se recobria de toda a força na defesa dos seus (esposo, duas filhas e um filho). Era uma doceira fina, como fina também era a sua educação. Carinhosa com os netos, fazia-lhes sempre as vontades, não relutando em atender a um pedido nosso, para o que se desdobrava, sempre solícita e bem-humorada. A sua colaboração foi ímpar na criação dos meus filhos, tendo sido, merecidamente, muito amada por todos nós. O nosso convívio foi sempre salutar e construtivo. Como não havia mais a presença física da minha mãe, dediquei-me a ela com a ânsia natural de amparo materno e fui muito bem acolhida. Partilhamos bons e, infelizmente, maus momentos também. Essas mulheres, exemplos que ficaram arraigados na nossa formação, deixaram marcas e hoje, carregamos no coração, as sementes da harmonia e a certeza dos seus ensinamentos, herança de inestimável valor. Onde estiverem, sintam-se homenageadas nesta Semana da Mulher.
Lygia Prudente

domingo, 1 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher (1)

Ferro à Carvão, Fogão à Lenha: o Ranço da Emancipação

Sem feminismo improcedente, continua em andamento, inegavelmente, a equiparação entre os sexos, em casa, na escola, no trabalho e na política, fundamental no processo de modernização da sociedade brasileira. Essa ampliação da participação feminina em todos os níveis, alarga e enriquece, torna mais honesto e transparente o desenvolvimento sócio-político. A mulher está encontrando o seu espaço e... sozinha. Freud, o pai da psicanálise perguntou certa vez: “Mas, afinal, o que querem as mulheres?”. Para o homem, a mulher sempre foi um enigma, e a sua falta de sensibilidade para decifrá-lo, levou-o a produzir esteriótipos que moldaram durante séculos a imagem da mulher como aquele ser que não evoluiu plenamente, uma versão frágil e mal-acabada da espécie humana. Sexo frágil? Que nada! Hoje elas estão revolucionando o mundo, governando países, viajando ao espaço, são maioria nas universidades, decidem eleições, dirigem empresas e quebram recordes esportivos. É importante salientar que o ser homem e ser mulher, tende a variar em função de épocas e culturas. A fixação de qualidades caracteristicamente femininas ou masculinas é uma clara conseqüência de divisão de papéis convencionada pela sociedade. O filósofo grego Aristóteles definia a mulher como “um macho mutilado”. Santo Agostinho, em um dos seus sermões dizia: “Homem, tu és mestre, a mulher é tua escrava, Deus assim o quis.” Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica : “Como indivíduo, a mulher é um ser medíocre e defeituoso”. Na Renascença, as mulheres foram sistematicamente impedidas de ingressar no mundo do saber. A dicotomia entre vida pública - reservada ao homem -, e vida privada – a cargo da mulher -, acabou se tornando uma armadilha que limitou a realização de ambos. Descartar a participação da mulher, teve conseqüências drásticas para o nosso mundo ocidental, poderoso, eficiente e também tão frio, duro e violento! Num primeiro momento, a mulher lutou por igualdade de direitos com o homem estabelecendo assim uma competição. Porém, recentemente, ela está se dando conta do seu poder de ação, elevando assim a sua auto-estima, promovendo os seus valores e substituindo a competição pela interação e cooperação. A nova mulher tem a coragem de encarar seus próprios medos, desejos, conflitos, e esse amadurecimento, digamos assim, lhe permite aceitar – de forma mais maleável – os do homem. Ela está sensitiva às oportunidades para expor o seu talento natural como predisposição para relacionamentos e habilidade de comunicação. Assim, passou a ganhar maior fatia do mercado de trabalho, assumindo postos de chefia em cargos outrora essencialmente masculinos. As mulheres conseguiram marcar presença e impor uma identidade como executivas, políticas, e hoje proliferam-se como internautas. Aquelas viciosas “Amélias” – treinadas para cuidar da casa, marido e filhos, somente, dependente em tudo do companheiro que escolheram por elas – não mais são o comum, porque há vontades e desejos exteriorizados e a salutar manifestação da realização profissional aflorou. As responsabilidades aumentaram, com certeza, porque abarcaram para si mais tarefas, mais compromissos – serem mães, mulheres, donas-de-casa, executivas, escritoras, artesãs, etc., etc., etc. -, com uma jornada de trabalho mais pesada, entretanto... mais prazerosa, por serem elas mesmas. Os exemplos de mulheres, que descobriram o seu valor enquanto pessoa, são vários na nossa história: Chiquinha Gonzaga, a primeira a reger uma orquestra no Brasil, por volta de 1879; Deolinda Daltro, professora, fundadora do Partido Republicano Feminino, em 1917, comandou uma passeata exigindo o direito de votar; Em 1822, na Semana de Arte Moderna, Anita Malfatti introduziu o Modernismo nas artes; Na política contamos com uma representação feminina bastante significativa em números, mas, infelizmente, com uma participação ativa no Plenário ainda muito tímida, mas temos responsabilidade sobre isso. E vamos exercitar o nosso amadurecimento. Indubitavelmente, a emancipação da mulher leva à emancipação do homem, que perde uma escrava, mas reencontra uma companheira na cumplicidade, na ternura, na estima, restaurando dessa forma, valores femininos como intuição, perspicácia, tolerância e imaginação.
Lygia Prudente

Essa é uma merecida homenagem à MULHER pela sua persistência, pelo seu poder interior, pela sua meiguice, pela sua força e pelo seu embutido espírito de liderança e, como já disseram...

“Nada mais contraditório do que ser mulher...
Mulher que pensa com o coração, age pela emoção e vence pelo amor.
Que vive milhões de emoções num só dia, e transmite cada uma delas num único olhar.
Que cobra de si a perfeição e vive arrumando desculpas para os erros daqueles a quem ama.
Que hospeda no ventre outras almas, dá a luz, e depois fica cega
diante da beleza dos filhos que gerou.
Que dá as asas, ensina a voar, mas não quer ver partir os pássaros,
mesmo sabendo que eles não lhe pertencem.
Que se enfeita toda e perfuma o leito, ainda que seu amor nem perceba mais tais detalhes.
Que, como uma feiticeira, transforma em luz e sorriso as dores que sente na alma,
só pra ninguém notar.
E ainda tem de ser forte para dar os ombros para quem neles precise chorar.
uma mulher!” (?)